Pode procurar por aí – se você se informar a respeito de um dos mais importantes órgãos do corpo humano, você vai ver que ele não tem nervos. Estamos falando do fígado. Por esse motivo, dizem os homens de branco, ele não sente dor e todas as suas manifestações patológicas são por sintomas periféricos e secundários, mas nunca no próprio órgão. Mentira.
Se você já foi a Belo Horizonte, você já sentiu o seu fígado. Digo mais: você ainda sabe o tamanho e a forma que ele tem.
A capital mineira é a Meca da botecagem moleque, a botecagem várzea. Uma vez, conversando com um gaúcho, disse ele que se sentiu um verdadeiro idiota ao ver as especiarias que o mineiro estava acostumado a comer sem frescura nenhuma em seu dia-a-dia, enquanto que em sua terra o povo se orgulhava por comer apenas churrasco de carne de boi... da maneira mais aviadada possível, suponho.
Exemplo de tudo isso que foi descrito acima é o festival Comida di Buteco. Organizado por uma marca de cerveja, é um festival onde os bares inscritos disputam quais têm os melhores tira-gostos da cidade. Engana-se aquele que pensa que só bares chiques entram na disputa – ele é aberto a todo e qualquer tipo - seja os mais badalados aos mais copo-sujo, todos são bem-vindos. Torresmo, língua de boi, rabo de porco, rabada, costelinha de porco, batata assada, peixe, etc. Tudo é meticulosamente testado e inventado antes do concurso pelos donos dos bares que tentam, além de atrair a atenção do público pelo sabor, vencer pela originalidade do prato. Tudo isto analisado por um comitê convidado pela organização do evento e, principalmente por aqueles que vão aos estabelecimentos ávidos por álcool e comida.
No entanto, não é somente o sabor e a originalidade do prato que estão em jogo. Limpeza e qualidade no atendimento também recebem nota e são fundamentais para a definição do vencedor da peleja. Além disso, artistas plásticos são contratados para fazerem arte nos banheiros e estes também estão sujeitos a julgamento. Em resumo: é a falta de frescura se tornando imperativa e a simplicidade das comidas se tornando alta gastronomia.
Tive a sorte este ano de ter ido beber em um dos bares vencedores, o Bar do Zezé. A comida do concurso, o Rabo Apertado – virado de jiló com rabo de porco, lombo e torresmo –, ficou em segundo lugar este ano, assim como a arte do banheiro. Dono de grande simpatia, seu Zezé nos fez companhia durante boa parte de nosso porre; e inclusive abriu uma exceção e fez a cozinha do bar fechar mais tarde em função do atraso de alguns amigos que também estavam indo lá para provar o prato. Tudo estava impecável, desde a limpeza ao prato. Podem ter certeza, da próxima vez que for a Belo Horizonte baterei meu cartão por lá.
Caso tenha sentido inveja e queira conferir o que os bares da capital de Minas Gerais tem, ficam aqui duas recomendações: 1 – Chegue cedo. Mineiros são botequeiros, mas não são boêmios. O bar fecha cedo porque a bebedeira começa muito cedo. Além disso, é comum cerveja e comidas mais disputadas acabarem durante o festival. A impressão que dá é que os bares não se preparam – ou não consideram a hipótese – para receberem turistas ou aumento no volume de pessoas. Tive de dar meia-volta em dois bares devido a isto. 2 – Tenha paciência. Belo Horizonte caminha em outro ritmo, mas se você pediu, tenha certeza que a comida vai chegar ótima e a cerveja bem gelada. Sem pressa.
Para ir ao Bar do Zezé para provar seu Rabo Apertado e os pratos vencedores dos outros anos, vá à Rua Pinheiro Chagas, 406 - Barreiro de Baixo - Belo Horizonte - MG. Tel: (31) 3384-2444.
Ah, e lembram-se daquela história do fígado no começo do texto? A imagem de baixo resume mil palavras:
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